Minha experiência com o luto e a morte quase me destruiu. Enquanto lutava contra o câncer, abuso, falta de moradia infantil e tudo mais na minha vida, a fé sempre foi suficiente e inquestionável. Eu me senti forte e sob controle. No dia em que perdi meu marido, no entanto, minha existência completa desmoronou sob mim. Em tenra idade, perdi meu pai. Ele foi o único que me amou. Após sua morte, vivi sob vários tipos de abuso e negligência. Sem família extensa, meu marido não era apenas meu companheiro e melhor amigo, ele era o único adulto a me amar, aceitar e proteger, desde a morte de meu pai.

Com o passar dos meses, perdi todas as colunas fundamentais que garantiam minha identidade. Eu era um prédio em demolição. Uma viúva da idade das trevas sentenciada à torre do rei. Minha execução ordenada para ser lenta, desmoralizante e com golpes contínuos de dor! Concordo que minha descrição parece dramática e exagerada; no entanto, aqueles que viveram tal dor não encontram exagero em minhas palavras. A morte é ter alguém desaparecendo da Terra, para sempre e de uma vez - com absoluta impotência para salvar seus entes queridos. A dor emocional é tanta que todo o corpo dói. O envelhecimento acelera. Envelheci vários anos depois de viver com tristeza por menos de um. Da perspectiva interna da minha mente miserável, lembro-me de olhar para o abismo da minha alma e só ser capaz de ver uma frase de minutos eternos vazios e solitários, que durariam a vida que me restava. Desejei um processo de morte misericordioso e de um golpe só, ou uma maneira imediata e milagrosa de não sentir dor. Elas não vieram. Eu tinha sido sentenciada à tortura. Era para ser executada lentamente, desmoralizante, com golpes contínuos de dor. O carrasco, a própria vida, roubou cada elemento fundamental da identidade. Esta foi a segunda maior perda que veio depois do choque de perder meu marido. Amigos, família, saúde mental e física, percepção de identidade, trabalho, finanças... tudo parecia me deixar, um por um.